Aves sem pouso


Percorro o território do teu corpo
e um ninho, um pouso busca a boca cega
salivando saliências e reentrâncias
que dás e negas, tão cheia de graça,
e és tão cheia de ninhos, só que pairas
em páramos que esboças pelo teto
quando descerro as portas que me trancam
o coração, e o coração já voa
também por outros paramos, por onde
como soltos no espaço nós soltamos
essas aves que em vão buscam um pouso.


Des oiseaux qui ne se posent pas

Je parcours le territoire de ton corps
et un nid, un lieu de repos cherche la bouche aveugle
en salivant des saillies et des creux
que tu donnes et tu nies, si pleine de grâce,
et tu es si pleine de nids, seulement que tu planes
dans des plaines désertes que tu esquisses par le plafond
quand j’ouvre les portes qui me ferment
le coeur vole
aussi par les autres plaines désertes, par où
comme libres dans l’espace nous libérons
ces oiseaux qui en vain cherchent un lieu de repos.


(Da antologia “Poésie du Brésil”,
seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos,
como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.
Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

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