Prelúdios intensos para os desmemoriados do amor

Prelúdios intensos para os desmemoriados do amor

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA. ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande tela. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jugo novo.
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão)

Préludes intenses pour ceux qui ont perdu la mémoire d'amour

Prends-moi. Ta bouche du lin sur ma bouche
Austère. Prends-moi MAINTENANT, AVANT
Avant que la carnation se défasse en sang, avant
La mort, mort amour, ma mort, prends-moi
Enfonce ta main, respire mon souffle, avale
En cadence ma sombre agonie.

Temps du corps, ce temps-là, de la faim
Du dedans. Corps se connaissant, lentement.
Um soleil de diamant mourrissant le ventre,
Le fait de la chair, la mienne.
Fuyante.
Et sur nous ce temps futur tissant
Tissant la grande toile. Au-dessus de nous la vie
La vie se répandant. Cyclique. S'écoulant.

Tu te reconnais vivant sous un joug nouveau
Tu te mets en ordre. Et moi, déliquescente: amour, amour,
Avant le mur, avant la terre, je dois
Je dois crier ma parole, un charmant
Flanc
Dans l'ardente tessiture d'un rocher. Je dois crier
Je le dis à moi même. Mais à côté de toi, je me couche
Immense. En pourpure. En argent. En douceur.

(Réjouissance Mémoire Noviciat de la Passion)

(Da antologia bilingüe “Poésie du Brésil”, seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997. Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros. Os poemas acima foram compilados por Henrique Alves.)

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