Lendo Émile Zola


O sol esgota os objetos;
não me deixa dizer mais nada.
Transforma em plantas os fantasmas
que ontem dançavam no quintal.

Mostra a burra realidade
das coisas, o preço dos sonhos;
água laminada levando,
em ondas, o último mistério.

Tudo foi dito da maneira
mais cruel: um micro de sol
escreveu em poucos segundos
todos os livros que sonhaste.

Cada morto que descobrias
já tinha sido visitado,
não apontaste nenhum pássaro
que a floresta desconhecesse.

E esta verdade passageira
que te cumpria revelar
foi arrancada quando um garfo
de sol já ia penetrá-la.


En lisant Émile Zola

Le soleil épuise les objets,
ne me laisse plus rien dire.
Tourne en fantômes les plantes
hier encore dansant dans les parterres.

Un soleil, ça fait voir les choses,
leur stupide réalité,
le prix des rèves : eau laminée
emportant parmi ses lames le mystère.

Tout aura été dit de la manière
la plus cruelle : un microgramme
de soleil écrit en des secondes
tous les livres rêvés. Chaque mort

Que tu crois avoir redécouvert,
on l’ avait déjà visité,
tu n’ auras pu montrer du doigt aucun oiseau
méconnu par le bois. Et encore:

Cette vérité même, passagère,
te fut elle aussi arrachée
alors qu’une fourchette du soleil
s’apprêtait à la pénétrer.


(Da antologia “Poésie du Brésil”,
seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.
Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

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