Cartão de visita


Moro tão longe, que as serpentes
morrem no meio do caminho.
Moro bem longe; quem me alcança
para sempre me alcançará.

Não há estradas coletivas
com seus vetores, suas setas
indicando o lugar perdido
onde meu sonho se instalou.

Há tão-somente o mesmo túnel
de brasas que antes percorri,
e que à medida que avançava
foi se fechando atrás de mim.

É preciso ser companheiro
do Tempo e mergulhar na Terra,
e segurar a minha mão
e não ter medo de perder.

Nada será fácil : as escadas
não serão o fim da viagem;
mas darão o duro direito
de, subindo-as, permanecermos.



Carte de visite

J'habite si loin que les couleuvres
meurent à mi-chemin.
J'habite trop loin: qui me rejoint
le fait à tout jamais.

Il n'y a pas de routes collectives
avec leurs vecteurs et leurs flèches
indiquant le lieu perdu
où s'instala mon rêve.

Rien que ce tunnel
pavé de braises: je l'ai dû parcourir
et à mesure que j'avançais il s'enfermait
sur mon dos, pas sur pas.

Il te faudra devenir le compagnon
du Temps et plonger dans la Terre
en me tenant par la main,
laissant ta peur de perdre.

Rien ne sera facile : les marches
n'aboutissant à la fin du voyage,
ne donnent que le droit, dur, d'y rester
pourvu que tu les grimpes.


(Da antologia “Poésie du Brésil”,
seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.
Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)
Página publicada em setembro de 2008

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