Herança lusitana

Os brasileiros herdaram dos portugueses o seu amor às coisas francesas.

Eça de Queirós, lido no Brasil, muito contribuiu por sua aberta afeição à Paris demonstrada ao longo da sua obra, em especial a encarnada pelo seu famoso personagem Jacinto de Tormes, do romance A Cidade e as Serras (publicado em 1901). Trata-se de um jovem patrício português nascido na capital francesa e que, ao seu modo, representa a almejada síntese entre ambas as culturas.

Essa admiração dos brasileiros, particularmente da elite intelectual abertamente francófila, vai se entender até os anos 60 do século XX, quando então a presença norte-americana, já lamentada nos anos 30 por Mário de Andrade, tornou-se avassaladora.

Por quase cinco séculos, a influência francesa sobre o Brasil deu-se em todas as áreas, desde a ocupação do território tentada por Villegagnon, passando pelas viagens dos naturalistas, pelas artes plásticas, pela fotografia, pela literatura, pela filosofia, pelas ideais políticas, pela prevenção higienista, pela arquitetura moderna e pelo cinema. Praticamente não houve arte, ciência ou conhecimento em que a cultura francesa não esteve presente entre nós.

Neste blog, encontra-se uma cronologia que procura mostrar quais foram os campos desta aproximação mais intensa, a qual, na feliz expressão de Mario Carelli, gerou um "cruzamento de culturas" que fez com que os franceses se endessem aos encantos do "bom selvagem" importado do Brasil (o precursor do "homem cordial" de Sérgio Buarque de Hollanda), enquanto os brasileiros, por seu lado, tentaram por todos os modos reproduzir a Civilização Francesa nos trópicos, provocando uma singular inter-relação entre natureza e civilização.

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