A viagem

Le voyage

Qui est-ce quelqu'un qui marche
tout le matin avec tristesse
au-dedans de mes vêtements, perdu
au-delà du rêve et de la rue ?

Des vêtements qui grandissent
comme s'ils portaient dans les poches
de douces geographies, des pensées
de l'au-delà du revê et de la rue?

Quelqu'un à chaque instant
vient mourir au lointain horizon
de ma chambre, où ce quelqu'un
est vent, bateau, continent.

Quelqu'un me dit toute la nuit
des choses dans une voix que je n'entends pas.
Parlons du Voyage, je me soutiens.
Quelqu'un me parle du voyage.

Le poème et l'eau
Les voix liquides du poème
invitant au crime
au revolver.
Elles me parlent d’iles
que même les rêves
n’ atteignent pas.

Le livre ouvert sur mes genoux
le vent dans mes cheveux
je regarde la mer.

Les événements d'eau
se mettent à se répéter
dans la mémoire.




A viagem

Quem é alguém que caminha
toda a manhã com tristeza
dentro de minhas roupas, perdido
além do sonho e da rua?

Das roupas que vão crescendo
como se levassem nos bolsos
doces geografias, pensamentos
de além do sonho e da rua?

Alguém a cada momento
vem morrer no longe horizonte
de meu quarto, onde esse alguém
é vento, barco, continente.

Alguém me diz toda a noite
coisas em voz que não ouço.
Falemos na viagem, eu lembro.
Alguém me fala na viagem.

O poema e a água
As vozes líquidas do poema
convidam ao crime
ao revólver.
Falam para mim de ilhas
que mesmo os sonhos
não alcançam.

O livro aberto nos joelhos
o vento nos cabelos
olho o mar.

Os acontecimentos de água
põem-se a se repetir
na memória.

(Da antologia bilingüe “Poésie du Brésil”, seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

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